Yuko Moriguchi, perdeu sua filha de 4 anos em um
afogamento na escola onde trabalha. Lutando
para conseguir seguir com a dor da perda da filha, Yoko decide pedir demissão.
Em seu último dia de aula ela decide fazer uma revelação: A morte de sua filha
na verdade não foi acidental, ela foi assassinada por dois alunos presentes
naquela sala de aula. Sem citar nomes, Yuko conta como tudo aconteceu, mas no
final de sua história, mesmo sem citar nomes, todos os alunos já sabem quem
foram os responsáveis.
Após a revelação de Yuko, os capítulos do livro
passam a se alternar, mostrando diferentes ângulos da situação. Voltamos ao
fatídico dia pelos olhos de cada personagem envolvido, e também acompanharemos
a situação atual de cada personagem, e assim veremos a vingança em andamento.
Entenderemos a situação de alguns personagens e até mesmo sentiremos pena deles
devido à negligência e à criação que receberam, embora isso não justifique suas
ações.
Veremos como algumas crianças podem ser maldosas, o livro conseguiu me deixar
um pouco chocada com as ações dos personagens mirins. Percebemos
também que pais omissos na vida de seus filhos podem deixar marcas que vão
afetá-los para o resto de suas vidas e afetar a forma como eles se enxergam e
veem o mundo.
Um dos temas abordados no livro é o HIV, onde Yuko
deixa claro no início do livro sobre a desinformação e o preconceito da
população do país. A desinformação dos alunos em relação ao tema causa
desconforto e revolta. Os alunos chegam a demonstrar medo de estar no
mesmo ambiente que uma pessoa soropositiva, chegando ao ponto de prender a
respiração enquanto a professora falava.
Alguns trechos:
'O preconceito com portadores de HIV no Japão é terrível - e se quiserem uma prova, basta se lembrarem de como prenderam a respiração agora há pouco, pensando que eu estava infectada. Mesmo que a criança não tivesse o vírus, como seria tratada quando todos soubessem que o pai tinha AIDS? Se fizesse amigos, será que seus pais os deixariam brincar com ela? Quando tivesse idade escolar, será que as outras crianças, ou até os professores, a tratariam mal e a obrigariam a sair da lanchonete, da aula de educação física ou de algum outro lugar onde pudesse ocorre algum problema?'
'Se vocês tem tanta simpatia por alguém com AIDS, por que chegaram para trás quando descobriram que a professora aqui na frente transou com uma pessoa infectada com HIV?'
'Você parece particularmente incomodada, Srta. Hamazaki, sentada aí na primeira fila, mas não precisa prender a respiração. O HIV não é transmissível pelo ar. Na verdade, ninguém pega aids com aperto de mão, por causa de uma tosse ou um espirro, nem por compartilhar o banheiro, a piscina, por usar o mesmo prato, nem pela picada de um mosquito ou pelo contato com animais. Em geral, nem pelo beijo se transmite HIV. Ninguém pega aids por ter um contato mais próximo com uma pessoa infectada, e nunca ninguém pegou por simplesmente estar na mesma sala que uma pessoa infectada, embora eu saiba que no livro não se fala de nada disso.'
Pesquisando um pouco sobre HIV no Japão, encontramos relatos de um país muito conservador. Levando em conta o ano de lançamento do livro e a cultura do país naquela época, acredito (de acordo com minha interpretação) que o desconforto foi proposital. Encontramos manchetes e pesquisas onde parte da população considerava HIV coisa de estrangeiro e coisa de pessoas 'imorais e promíscuas'. Deixo claro que baseei minha pesquisas na época do lançamento do livro, nenhuma informação aqui se trata dos anos atuais e sei que o país evoluiu muito desde aquela época. Acredito que a professora aproveitou a ignorância, preconceito e falta de conhecimento dos alunos para ajudar em sua vingança. Isso fica perceptivo nas páginas em que acompanhamos os alunos. Eles consideram o HIV como uma sentença de morte, e sabemos que na realidade não é assim.
Em minha pesquisa, de anos anteriores, compatíveis com a época de lançamento do livro, descobri que muitas pessoas deixaram de fazer o tratamento adequado devido a preconceitos e que pode ocorrer um isolamento de pessoas soropositivas. Também achei matéria de brasileiros que preferiram retornar ao Brasil após o diagnóstico para um tratamento mais humano e completo. Encontrei informações sobre a conscientização e prevenção, indicando que o país ainda apresentava certa resistência nesses aspectos. Por volta do ano de 2008, percebi que o governo ainda não fazia muita campanha de conscientização.
Informações foram retiradas do site: https://agenciaaids.com.br/ Aqui você vai achar matérias de anos anteriores a 2008.
O livro aborda uma história cruel, com cenas difíceis de
lidar, especialmente quando se trata do assassinato de uma criança de apenas 4
anos. Apesar de voltar à mesma cena várias vezes, isso não torna a história
repetitiva, pois as repetições trazem respostas importantes para algumas
perguntas em aberto.
A escrita da autora é fluída, mas algumas
pessoas podem achar o início confuso devido à introdução de variados pontos de
vista. No entanto, para mim, isso não atrapalhou a leitura e, achei
interessante a forma como a história foi montada. Indico demais a leitura.
Recomendo muito a leitura para pessoas que não são sensíveis ao tema tratado no livro.
Alguns dos possíveis gatilhos:
Violência
Suicídio
Depressão
Bullying
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